ARTE ARTEIRA

A arte é uma das formas mais lindas de expressar emoções. Até a raiva pode ser expressa como arte. A arte pode ser criada carregada de uma emoção e vista com outra. Na arte cabe toda e qualquer emoção.

domingo, 11 de abril de 2010

Pensamentos recorrentes

Estou começando a pensar em voltar.
Percebo que a vida é disposta em ciclos, e creio estar entrando em outro ciclo de minha vida.
Quando vim pra Salvador, precisava de um grande distanciamento de tudo e de todos. Precisava me distanciar de minha perda passada, de minha perda futura, e de seus envolvidos e representantes.
Agora, preciso voltar pra tudo isto. Agora me sinto só. Preciso de minha história, preciso continuar a vida como estou acostumada. Com meus valores, desde o mais simples.
Pensei que mudando de cidade, mudaria também minha dor. Mudaria também meus hábitos. Mudariam meus sentimentos. Ledo engano. Mudou somente o entorno, porque foi só o que eu mudei.
Esta noite sonhei com minha família. Meu pai minha mãe, minha irmã e um amigo de Sâo Paulo. Estávamos em minha casa, ele havia me trazido dois pássaros pra eu tomar conta por um tempo, que ficavam em uma gaiola que não tinha porta. Eles entravam e saiam à vontade. Sempre retornavam.
Depois que ele os deixou e foi embora, me assaltou a evidência de que eu tenho gatos e, portanto não deveria ficar com seus pássaros, pois seria muito ariscado para eles. Mas ele já tinha ido e eu, já tinha ficado com os pássaros.
Eles eram encantadores, conversávamos bastante, atendiam ao meu chamado, e me ensinavam a cuidar bem deles mesmos.
Mas eu ficava sempre em sobressalto procurando por eles com medo que já tivessem sido caçados por um de meus gatinhos.
Pois bem, meu amigo retornou pra levá-los, a uma festa e queria que eu os acompanhasse, como se fossemos um casal levando seus filhos a uma festa. Fiquei surpresa, mas gostei da idéia. Aí nos pusemos a procurá-los. A gaiola deles estava no banheiro, onde minha irmã tomava banho. Por não podermos entrar perguntei a ela, através da porta, se eles estavam na gaiola, porém me pareceu que não estavam. Ela me respondeu que sim, eles estavam lá. Mas neste ínterim, continuamos a procurar por toda a casa. Fomos ao meu quarto, que estava com a cama desarrumada, e minha mãe ia em sua direção pra se deitar, mas eles não estavam. Fomos ao quintal, nesta fase do sonho, meu apto se transformara em casa de minha mãe, mas eles não estavam. Ocorreu-me um sentimento de um ligeiro constrangimento por morar em uma casa bem mais simples do que a casa de meu amigo.
Bem, continuamos a busca. Só encontrados um deles, e o sonho acabou assim, no meio e sem conclusão real, mas me deixando uma sensação de que ele ocorrera pela minha necessidade de reconhecimento. Necessidade de estar entre os meus pares.
Estou a três anos completamente afastada de meus pares. Mal faço parte de uma escola de cerâmica. Não tenho nenhuma amiga de fato. Só conhecidas e colegas esporádicas. Não me encaixo a cultura daqui e esta cultura não se encaixa em mim. Acho que quero voltar pra minha “casa”. Percebo, e não é de hoje, que até meus gatinhos, que aqui tem muito mais espaço do que em São Paulo, não se sentem totalmente tranqüilos aqui. Pode ser que eles estejam me percebendo com uma aflição embutida. Sei lá, mas embora goste daqui, do lugar, da cidade, do meu apartamento, moro em frente ao mar, da paisagem, sinto falta dos meus hábitos, dos meus costumes de paulistana e principalmente de minha cultura. Sinto falta de ser reconhecida pelo outro como uma possibilidade de relacionamento. Não necessariamente de um relacionamento entre home e mulher, mas entre pessoas. Acho que aqui não sou vista como esta possibilidade por ser muito diferente, não na forma mas em pensamento, em atitude, em crenças. Além disso, as possibilidades aqui são infinitamente menores.
E os homens. Ah... os homens que aqui gorjeiam... não gorjeiam como lá... pois é! Valores diferentes, imagem diferente, comportamento diferente e interesses diferentes, fazem com que meu interesse por eles seja inexistente. E isso certamente me faz muita falta. Falta o brilho em minha vida.
Outra coisa que me falta demais são conversas inteligentes. Não é fácil tê-las em qualquer parte do planeta, mas há lugares onde esta possibilidade é mais escassa.
Acho que resolverei meu problema assim: levarei o mar e meu apartamento para São Paulo, ou vou continuar pensando em meus sentimentos pra apurá-lo o suficiente pra poder tomar uma decisão. Como me disse um amigo em uma ocasião em que eu estava também com dificuldade em tomar outra decisão, a minha situação é muito boa, pois tenho total liberdade de ir ou ficar onde eu quiser. De fato olhando por este ângulo ele tem razão, mas assim como me faltam empecilhos faltam-me também motivações. Ou seja, nunca estamos contentes...